Lucio Maia Trio se apresenta no Estelita, nesta quinta-feira (15)
Ex-guitarrista da Nação Zumbi, Lucio Maia traz seu projeto paralelo para o Recife
Publicado: 15/05/2025 às 09:03

Guitarrista Lucio Maia/Foto: Leandro Maia/Divulgação
Nos acordes mágicos de Lúcio Maia, lenda viva da música pernambucana e brasileira, pulsa a transgressão de quem dedilha o caos ordenado do mangue com a voltagem política e poética da América Latina. Tudo isso vai transbordar hoje no palco do Estelita, às 20h, quando o ex-guitarrista da Nação Zumbi apresenta seu projeto paralelo Lúcio Maia Trio, ao lado de Arquétipo Rafa na bateria e João Cavalcanti, que substitui Marco Gerez, ausente por questões de saúde, no baixo.
O trio representa mais um degrau na escada ascendente da carreira solo de Lúcio, trajetória que se consolidou durante e depois de sua passagem pela Nação Zumbi. Seu projeto Maquinado - materializado nos álbuns Homem Binário (2007) e Mundialmente Anônimo (2010) - foi apenas o ponto de partida para uma série de experimentações.
Desde então, não parou de expandir suas fronteiras criativas, produzindo discos para bandas como o Autoramas e compondo trilhas sonoras para filmes como Amarelo Manga, dirigido pelo também pernambucano Cláudio Assis, e Linha de Passe, do premiado diretor Walter Salles.
Foi neste último que ocorreu um desses encontros musicais felizes: Lúcio interpretou Juízo Final (clássico de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito) ao lado de Seu Jorge. Tudo começou quando um assistente de Salles, impressionado pela performance da música em um show do Maquinado, levou a ideia ao diretor.
O entusiasmo foi tão grande que, das sessões de gravação, brotaria o projeto Seu Jorge & Almaz, reunindo além da dupla, o multi-instrumentista Antônio Pinto e o baterista Pupillo. “Nunca me restringi a estilo nenhum. É o que, de certa forma, me abriu essas portas”, explica o guitarrista, em conversa exclusiva com o Viver.
Em 2019, ele batizou seu álbum mais recente simplesmente de Lúcio Maia. Além do gesto simbólico, a sonoridade reafirmou sua identidade musical com a força de quem domina tanto o caos quanto a melodia.
O trabalho (100% instrumental) finca os pés em uma mistura que navega entre os ritmos brasileiros e caribenhos, como se o manguebeat tivesse encontrado seu litoral psicodélico. “Fiz questão de explorar uma estética mais latino-americana, que sempre teve muito a ver comigo”, destaca.
O show de lançamento, no entanto, só viria em 2021, após os piores momentos da pandemia. Inicialmente concebido como um quinteto, o projeto precisou ser adaptado para um trio, com Lúcio, Marcos Gerez e Arquétipo Rafa, devido aos altos custos de circulação.
Essa química a três, testada nos palcos, mostrou-se tão potente que moldou inclusive as novas composições do disco previsto para 2026. “A gente se sente muito bem tocando junto”, afirma o artista.
Atualmente radicado em São Paulo, o guitarrista supera a logística díficil para uma excursão nordestina, com João Pessoa e Natal na rota. “É um giro especial”, celebra. Mas é no palco do Recife, cidade que ajudou a colocar no mapa da música global através da Nação Zumbi, que ele prepara seu show mais emblemático. “É minha casa materna, digamos assim. Foi onde tudo começou, onde eu nasci e me criei”, lembra, emocionado.
Essa energia ancestral do mangue ganha novos contornos na mesma noite com a apresentação de Mago de Tarso, nome quente da cena trap nacional que reinventa a herança sonora pernambucana. Em seu set, o artista funde trap, bregafunk e forró com a atitude transgressora que Lúcio e sua geração ajudaram a criar nos anos 1990. “Ver isso reverberar até hoje é sinal de que Pernambuco está colhendo os frutos dessa história”, diz.

