Fome, desnutrição e doenças se alastram em Gaza com bloqueio israelense
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) falam de números chocantes, com uma em cada quatro crianças subnutrida e em risco de morte
Publicado: 25/07/2025 às 15:59

Uma menina palestina segura uma panela vazia em um ponto de distribuição de refeições quentes em Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza (Eyad BABA/AFP)
Nesta sexta-feira (25), mais uma criança morreu de fome na Faixa de Gaza e agora são 115 os palestinos mortos por falta de comida no enclave palestino, sendo a maioria menores de idade. Centenas de caixotes de ajuda humanitária suficientes para encher 1.000 caminhões estão apodrecendo junto a fronteira de Gaza, porque não é permitida a distribuição, enquanto, segundo agências humanitárias, a fome se alastra entre a população do enclave.
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) falam de números chocantes, com uma em cada quatro crianças subnutrida e em risco de morte. Além disso, as doenças transmitidas pela água também aumentaram 150 % desde que o cessar-fogo em Gaza foi interrompido.
“Um quarto das crianças dos seis meses aos cinco anos sofrem de subnutrição em Gaza, assim como as mulheres grávidas e lactantes examinadas na semana passada nas instalações locais dos Médicos Sem Fronteiras. "A situação é mais desesperada do que nunca, porque muitos pacientes já não recebem alimentos nos centros de saúde. O uso deliberado da fome como arma de guerra pelas autoridades israelitas em Gaza atingiu níveis sem precedentes, com os doentes e os profissionais de saúde a sofrerem de fome. Esta é uma fome deliberada, causada pelas autoridades israelenses no âmbito da campanha genocida em curso. Deixar passar fome, matar e ferir pessoas que procuram desesperadamente ajuda é inaceitável”, denunciou a MSF.
A coordenadora do projeto na clínica da MSF na Cidade de Gaza, Caroline Willemen, explicou que estão sendo registrados 25 novos doentes desnutridos todos os dias. Willemen disse que somente nesta clínica, o número de pessoas desnutridas quadruplicou desde 18 de maio, e a taxa de má nutrição grave entre as crianças com menos de cinco anos triplicou nas últimas duas semanas.
A MSF afirmou que seus trabalhadores em Gaza devem salvar vidas, mas vivem em condições precárias e também se consomem lentamente devido à fome.
Diante da pressão internacional, o Exército israelense anunciou hoje que irá autorizar sob sua coordenação a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos, nas próximas horas, lançamentos aéreos de ajuda sobre Gaza, prática que gerou, no passado, fortes críticas por parte de organizações humanitárias. Uma vez que representam vários riscos para a população e que já ocasionou a morte de palestinos esmagados pelas cargas lançadas por via aérea ou pela multidão desesperada que se junta nas zonas em que caem.
ONGs humanitárias como a Save the Children alertaram que este tipo de entrega não constitui uma solução para os milhares de palestinos encurralados e que apenas um cessar-fogo imediato entre Israel e o Hamas poderia salvar vidas. "Estes métodos alternativos de entrega de ajuda são caros, ineficazes e desviam a atenção da solução crucial para salvar a vida de crianças, mulheres e famílias em Gaza", afirmou a Save the Children, acrescentando que a solução incluiu ainda um acesso seguro e sem restrições da ajuda humanitária por todos os pontos de passagem e no interior da Faixa de Gaza.
Os países árabes já tinham realizado outros lançamentos aéreos de ajuda no início do ano passado, alegando que a crise humanitária atingira um ponto insustentável no enclave, como voltou a acontecer nas últimas semanas.
Além disso, sem um acordo à vista para uma trégua em Gaza, os Estados Unidos e Israel abandonaram ontem as negociações que aconteciam no Catar. O enviado especial norte-americano para o Oriente Médio, Steve Witkoff , apontou que o Hamas mostra falta de vontade para alcançar um cessar-fogo.

