Cerca de 21 mil crianças em Gaza são PcD devido a guerra
Em torno de 40.500 crianças na Faixa de Gaza sofreram novos ferimentos relacionados com os ataques na guerra
Publicado: 03/09/2025 às 16:00

Menino palestino após ter sua perna amputada devido a bombardeamentos israelenses (ABBAS MOMANI / AFP)
O Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Pessoas com Deficiência declarou que cerca de 40.500 crianças na Faixa de Gaza sofreram novos ferimentos relacionados com os ataques na guerra, sendo que mais de metade ficou incapacitada.
O Comitê também denunciou as condições perigosas e indignas a que são obrigadas a fugir as pessoas com deficiência (PcD). “Há relatos de pessoas que rastejam na areia ou na lama, sem ajuda para se deslocarem. Para, além disso, as ordens de evacuação israelenses em Gaza muitas vezes não chegam às pessoas com deficiências auditivas ou visuais, o que torna a evacuação impossível”, aponta.
Os especialistas do Comitê destacaram que mais de 80% das pessoas com deficiência perderam os recursos de assistência e a maioria ainda não conseguiu encontrar alternativas, como carroças puxadas por burros para poderem ser locomovidas.
Os obstáculos físicos, como toneladas dos escombros de prédios ou infraestruturas, e a perda de ajuda à mobilidade também impedem as pessoas de chegar a pontos de distribuição de ajuda.
“É muito preocupante a decisão de Israel quanto a dispositivos auxiliares, como cadeiras de rodas, andadores, bengalas e próteses são consideradas pelas autoridades israelenses como artigos de dupla utilização. Ou seja, são considerados ofensivos e, por isso, não são incluídos nos envios de ajuda humanitária”, afirma o Comitê da ONU para os Direitos dos PcD, acrescentando que o governo de Tel Aviv deveria adotar medidas específicas para proteger as crianças com deficiência contra ataques e implementar protocolos de evacuação que levassem em consideração as pessoas com deficiência.
O órgão informou que o conflito em Gaza provocou ferimentos em pelo menos 157.114 pessoas, destas mais de 25% correm o risco de ficar com incapacidades para toda a vida.
Já o chefe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), Philippe Lazzarini, alertou que a situação em Gaza que está sendo aceita vai se tornar a nova norma para todos os conflitos futuros. “Gaza está se transformando no cemitério do direito humanitário internacional".
Lazzarini reiterou que a fome também no enclave palestino não é o resultado de vários fatores, é apenas causado pelo homem. “Há meses que alertamos para os sinais de fome e soamos o alarme, mas os nossos avisos caíram no vazio. Vimos isso nos nossos centros de saúde, onde o número de crianças com desnutrição aguda aumentou seis vezes nos últimos meses”, diz Lazzarini, tendo ainda o temor das perspectivas divulgadas no relatório dos peitos da ONU de que agora a fome se espalhe por toda a Faixa de Gaza e não atinja somente a Cidade de Gaza.
“É absolutamente obsceno que mais de 1500 pessoas também morreram enquanto procuravam desesperadamente ajuda alimentar em centros de distribuição instalados perto das posições das Forças de Defesa de Israel, geridos pela infame Fundação Humanitária de Gaza. O nível de inação da comunidade internacional também é chocante”, acusou o líder da UNRWA.
Lazzarini sublinhou que as campanhas de desinformação de Israel contra a UNWA deixou claro que o desmantelamento da agência era um objetivo de guerra. “Os políticos israelenses viram uma oportunidade única para desmantelar uma organização que, aos seus olhos, representa o direito de regresso dos refugiados palestinos. Assim, desmantelar a agência e retirar aos palestinos o seu estatuto de refugiados é também uma forma de minar o direito à autodeterminação. E, portanto, um modo de minar a solução de dois Estados, de modificar os parâmetros de qualquer futura resolução política para o conflito”, explicou.

