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'Sonhar com Leões' é o filme mais corajoso do 53º Festival de Gramado

Protagonizado por Denise Fraga, 'Sonhar com Leões' é coprodução do Brasil com Portugal e Espanha e foi exibido na competição do Festival de Cinema de Gramado

Andre Guerra

Publicado: 22/08/2025 às 06:00

Filme estreia no circuito comercial no dia 11 de setembro/Divulgação

Filme estreia no circuito comercial no dia 11 de setembro (Divulgação)

Nenhum filme do 53º Festival de Cinema de Gramado é tão corajoso e tematicamente delicado quanto Sonhar com Leões — e talvez de nenhuma edição recente. Dirigido pelo radicado português e grego Paolo Marinou-Blanco e protagonizado por Denise Fraga, em um dos mais desafiadores papéis de sua carreira, a tragicomédia que estreou na competição de longas mobilizou diversas emoções da platéia, correndo riscos ao suscitar gatilhos brutais de maneira ácida e, simultaneamente, se entregando aos mais ternos sentimentos.

Na trama, Gilda (vivida por Denise) é uma paciente terminal de câncer de coluna que entra em um programa clandestino dedicado a orientações sobre suicídios menos dolorosos possíveis. Os dias gradualmente mais absurdos nesse grupo de convivência mudam completamente quando ela conhece o jovem Amadeu (João Monteiro), com quem embarca numa jornada pelo direito de realizar a eutanásia.

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(crédito: Divulgação)

Partindo de um registro irônico, com quebras da quarta parede e uma montagem estilizada que reforça o absurdo daquela situação inicial, Sonhar com Leões faz um complicado movimento de perder gradualmente o humor cínico para abraçar as dores mais profundas da perda, da solidão e, principalmente, da recuperação da vontade de viver mesmo com a sentença da finitude próxima. Filmado entre Portugal e Espanha, países coprodutores, ele transpira, através de Denise, a energia vívida brasileira.

Referências ao cinema sardônico de Yorgos Lanthimos são notadas, à iconografia medonha dois dois Sorria e até algumas menções à obra de Luis Buñuel, mas Sonhar com Leões tem um saldo completamente original e honesto em todos os seus riscos e arestas. Denise encara os desafios físicos e dramáticos de Gilda como se fosse o último personagem da sua vida e convida a plateia a vivenciar a euforia de uma das mais comoventes despedidas do cinema brasileiro contemporâneo.

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(crédito: Divulgação)

“Já vimos várias vezes temas delicados tratados com humor, mas nunca de forma tão vertical quanto aqui. Não é um filme sobre morte, mas uma celebração da vida. Essa mulher ama tanto viver que não quer passar pelo sofrimento horrível que a espera”, comenta Denise em entrevista exclusiva ao Viver. “A eutanásia é uma conversa que a gente precisa encarar no Brasil e o filme encontra um jeito ao mesmo tempo profundo e divertido de lidar com o assunto".

Ainda no bate-papo, a atriz relembra as gravações no Recife do longa Edificante, de Marcelo Lordello, ainda sem data de estreia. “Uma cidade que eu adoro. Estou louca para assistir ao resultado desse filme que fizemos com o Lordello, um dos mais queridos com que trabalhei. É outro que tenho imenso orgulho de ter feito parte”, reforça Denise.

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