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CRÍTICA

'Invocação do Mal 4' encerra saga do casal Warren em baixa criativa

Capítulo final de uma das maiores sagas do terror, 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual' estreia nesta quinta (4) no Recife

Andre Guerra

Publicado: 03/09/2025 às 13:15

Presença de Patrick Wilson e Vera Farmiga dá credibilidade ao cânone/Warner/Divulgação

Presença de Patrick Wilson e Vera Farmiga dá credibilidade ao cânone (Warner/Divulgação)

Marcado para representar a despedida do casal de investigadores paranormais de maior sucesso do cinema, Invocação do Mal 4: O Último Ritual, que chega nesta quinta-feira (4) aos cinemas do Recife, conta um dos mais conhecidos casos já retratados nessa franquia e com a urgência (histeria?) de um capítulo derradeiro — o que não garante que o impacto será proporcional à responsabilidade.

Nesta décima incursão de uma franquia que cresceu de forma tentacular demais para o bem dos filmes (já seis capítulos derivados do cânone principal; todos, quando menos, insatisfatórios), Invocação promete um 'grand finale' para a jornada que o público acompanha desde o primeiro filme, lançado em 2013 e dirigido por James Wan.

Na trama, ambientada em 1986, a dupla Ed e Lorraine Warren — baseada nos homônimos personagens verídicos e novamente interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga — é levada a ajudar a família Smurl, na Pensilvânia, que vem sendo aterrorizada por forças incompreensíveis. O casal já não vem trabalhando mais com assuntos paranormais para se proteger, mas no momento em que sua filha, Judy (Mia Tomlinson), se conecta com o caso, ele se torna prioridade.

Família Smurl já virou filme para a TV em 1991 com 'A Casa das Almas Perdidas' - Warner/Divulgação
Família Smurl já virou filme para a TV em 1991 com 'A Casa das Almas Perdidas' (crédito: Warner/Divulgação)

Somando os quatro filmes de Invocação do Mal e seus spin-offs, a série produzida por James Wan arrecadou mais de 2,2 bilhões de dólares mundialmente, sendo a maior em bilheteria acumulada da história do cinema de terror. Não é para menos: os filmes aproveitam a curiosidade inerente aos casos reais aliados aos múltiplos apelos contidos na franquia, da química do casal principal (que virou o equivalente no terror a uma dupla de heróis clássicos) aos sustos inofensivos com iconografias reconhecíveis do subgênero sobrenatural (fantasmas monstruosos, demônios, possessões). 

Enquanto essa receita estabelecida por James Wan sempre se provou benéfica do ponto de vista financeiro até nos resultados menos expressivos, Invocação do Mal vem sofrendo criativamente desde que a fórmula passou a se replicar de modo similar ao Universo Compartilhado da Marvel, por exemplo. Os filmes perderam bastante autonomia dramática a partir dos projetos derivados, passando a soar, assim, paulatinamente descartáveis. E esse mal assombra de modo mais evidente a saga central agora com O Último Ritual.

Michael Chaves, responsável por Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, retoma a direção neste encerramento e, apesar de algumas aptidões perceptíveis naquele trabalho e neste daqui também, sua abordagem com a caracterização do terror e com integração dos personagens aos espaços soa sempre algo banal, mesmo quando os esforços são claros para filmar de maneira épica.

  - Warner/Divulgação
(crédito: Warner/Divulgação)

No terceiro Invocação do Mal, isso atrapalhava menos do que neste quarto porque havia ali um minimalismo deliberado e, sobretudo, um foco maior na investigação do que nos arrepios verdadeiros. Parecia um episódio especial quase televisivo do 'Invocaverso' nas suas pretensões, ainda que com competência de produção e boas ideias visuais. Em O Último Ritual, porém — que tenta retomar a natureza dramática cheia de consequências, algo presente em Invocação do Mal 2 (talvez o mais bem resolvido até hoje da série) —, a falta de personalidadede se faz notar. 

Toda a estrutura do filme, aliás, lembra muito aquele segundo, ambientado na Inglaterra: divisão da história em dois núcleos que custam a se cruzar, a correlação do caso demoníaco investigado com algo pessoal dos Warren e a própria composição da família assombrada remetem totalmente ao Poltergeist de Enfield retratado com muito mais perícia, temor e observação por James Wan lá em 2016. 

Apesar do caso Smurl ser igualmente famoso (inclusive já transformado em filme com A Casa das Almas Perdidas, lançado diretamente para TV em 1991), Michael Chaves tem grande dificuldade de conectar a plateia ao sofrimento gradual daquela família, o que se dá muito pela fraca caracterização de cada um dos membros e de cuidado na construção/revelação da ameaça. Os sustos ocorrem sempre a partir de uma lógica visual de trailer: visam mais o conceito imagético isolado e menos a incorporação da cena à crescente do roteiro.

Fantasmas deste novo longa são os menos memoráveis da saga principal - Warner/Divulgação
Fantasmas deste novo longa são os menos memoráveis da saga principal (crédito: Warner/Divulgação)

Vera Farmiga e Patrick Wilson seguem conferindo bastante credibilidade ao cânone e, frequentemente, isso é o suficiente para que Invocação do Mal 4 seja mais envolvente do que qualquer um dos longas paralelos, incluindo A Maldição da Chorona A Freira 2, também dirigidos por Chaves. E o temor dos Warren com relação à filha — bem construído em uma ótima cena de prólogo — é a única coisa do projeto que chega perto de vender o peso almejado em um filme de encerramento.

Ainda que o restante do elenco não faça feio diante dos protagonistas (destaca-se Ben Hardy no papel de Tony, namorado de Judy), essa postura pretensamente carregada de Invocação do Mal 4 está mais na teoria do que na prática. Longe de ser uma obra ofensiva para o gênero ou para o estado da franquia, mas é tampouco o desfecho memorável e aterrorizante que parte do público pode esperar. 

Família Smurl já virou filme para a TV em 1991 com 'A Casa das Almas Perdidas'
Fantasmas deste novo longa são os menos memoráveis da saga principal
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