Engenheiro gaúcho deixou carreira de 25 anos e se tornou artista plástico no Recife
Após décadas calculando estruturas como engenheiro civil, o gaúcho Marcos Porto trocou a prancheta pela tela e hoje sustenta uma carreira de artista plástico morando no Recife
Publicado: 08/12/2025 às 04:00
Artista plástico Marcos Porto (Foto: Ruan Pablo/Arquivo DP)
Por muito tempo, Marcos Porto acreditou que sua história estava escrita em linhas retas e cálculos exatos. Formado em Engenharia Civil, construiu uma carreira sólida na área. Aos poucos, porém, a vontade de pintar, adormecida desde a infância, foi falando mais alto. Ressurgiu primeiro como passatempo, depois como refúgio e, finalmente, como missão de vida. Em comum entre os dois ofícios, o artista plástico gaúcho explora o rigor das formas. Por outro lado, a grande diferença é a liberdade e as cores vibrantes do Recife, cidade que escolheu para viver.
O impulso inicial veio do cansaço. A profissão que exerceu por 25 anos em grandes corporações, lhe trazia angústia e a sensação de ter uma vida engolida pelo trabalho. “Eu acabei esquecendo totalmente desse meu lado de artista”, lamenta Marcos, em conversa com o Viver. Na tentativa de reencontrar esse lado perdido, e na contramão da rotina exaustiva, ele decidiu entrar um dia em uma loja de materiais de arte, sem nunca ter feito um curso sequer. Comprou tela, tintas e pincéis e, a partir daí, passou a pintar todas as noites ao chegar em casa.
.A busca por uma vida diferente culminou em idas e vindas. No fim dos anos 1990, viveu um autoexílio criativo na Serra Gaúcha. Lá, longe dos canteiros de obra, ele se dedicou apenas à pintura e começou a colher os primeiros frutos. A renda incerta da arte não se equiparava à segurança da engenharia. Assim, após alguns anos, ele retornou à profissão de origem, deixando a pintura novamente em standby. até que, já morando no Rio de Janeiro, em 2010, tomou a decisão definitiva de sobreviver apenas das artes plásticas.
Seu último ato como engenheiro foi participar de um projeto que se tornaria ícone na teledramaturgia: o Edifício Ventura Corporate, erguido há 16 anos na Avenida República do Chile, no Centro do Rio. O prédio passou a ser cartão postal da cidade ao se tornar a sede da companhia aérea fictícia TCA no remake de Vale Tudo. “Vê-lo na televisão trouxe de volta aquele orgulho de ter participado”, celebra. “Como engenheiro e entusiasta de artes plásticas, me emocionou muito”, afirma Marcos.
Apesar de ter deixado a engenharia, a marca do ofício antigo simplesmente migrou para as telas. “Trabalho muito com círculos, retângulos, retas, curvas e todos os meus quadros acabam tendo, digamos, uma fórmula matemática”, brinca Marcos. Ao mesmo tempo, há uma profusão de cores que nenhum projeto de construção jamais previu. “Meu trabalho é exato, claro, mas às vezes puxo para algo mais orgânico”, explica ele, que já fez telas exclusivas para a atriz Hermila Guedes, a cantora Lia Sophia, a jornalista Fabiane Cavalcanti, entre outros.
Desde 2019 fixado no Recife, o artista atribui à cidade a explosão cromática de sua obra. Sua ligação com a capital pernambucana, porém, remonta a uma temporada de oito anos morando na capital, entre 1986 e 1994. “Mesmo começando a pintar profissionalmente no Rio, em 2010, acho que meu diálogo com a arte recifense já estava presente”, diz. Entre linhas e formas, o Recife está lá, não como cenário, mas como cor e sentimento.